INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CONSUMO E RESPONSABILIDADE JURÍDICA: ANÁLISE DO CASO DA VIA QUATRO DO METRO DE SÃO PAULO

Autores

  • Gustavo Silveira Borges Universidade do Extremo Sul Catarinense
  • Mauricio da Cunha Savino Filó Universidade do Extremo Sul Catarinense
  • Henrique Lapa Lunardi Escola Superior de Criciúma -Esucri

DOI:

https://doi.org/10.55839/2318-8650RevParRPv33n1pa173-199

Palavras-chave:

Direitos Humanos, Sociedade de consumo, Inteligência artificial, Consumidor, Vulnerabilidade

Resumo

O presente estudo tem por objetivo analisar a responsabilização jurídica da concessionária Via Quatro do metro de São Paulo, que passou a coletar dados pessoais dos consumidores sem o devido consentimento. O problema deste artigo está na seguinte indagação: a utilização conjunta de inteligência artificial e placas interativas, aliadas a coleta de dados pessoais, são capazes de interferir no poder de escolha do consumidor?  Para o desenvolvimento da pesquisa, buscou-se no primeiro capítulo compreender a necessidade de defesa do consumidor na sociedade da informação; no segundo capítulo verificou-se a influência da inteligência artificial no poder de escolha. No terceiro capítulo de desenvolvimento, analisou-se a responsabilização jurídica pela ausência de consentimento na coleta de dados pessoais no caso da via quatro do metro de São Paulo.

Foi possível verificar como essas práticas empresariais indesejadas e excessivas podem configura assédio de consumo, indicando a necessidade de normas constitucionais e infra legais capazes de regular essa relação. Concluiu-se, em linhas gerais que o dever de diligência e padrões éticos se mostram como indispensáveis para a limitação dos agentes empresariais, bem como constituem-se como padrões relevantes para a configuração da responsabilidade civil dos agentes. Quanto à metodologia empregada, a análise dos resultados está composta na base lógica dedutiva, enquanto que as técnicas de pesquisa foram bibliográfica e documental.

Biografia do Autor

Mauricio da Cunha Savino Filó, Universidade do Extremo Sul Catarinense

Doutor em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina (2018). Possui Mestrado em Direito pela Universidade Presidente Antônio Carlos - PPGD - UNIPAC (2010), possui Graduação (2004) e Pós-Graduação lato sensu em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (IEC, 2004). Lecionou na Universidade Presidente Antônio Carlos de 2009 até 2011/1. Leciona desde agosto de 2011, na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Atualmente é Membro do Núcleo Docente Estruturante, sendo que leciona Teoria Geral do Processo e Prática Processual Administrativa. Possui certificado de conhecimento da língua italiana, emitido pela Università per Stranieri Perugia (2006). Advogado.

Henrique Lapa Lunardi, Escola Superior de Criciúma -Esucri

Graduado em Direito pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2010) e Pós-Graduado em Direito Tributário Latu sensu. Atua como professor da Graduação e Pós-Graduação latu sensu na Escola Superior de Criciúma -Esucri. Gestor e Coordenador da unidade de Criciúma da rede de ensino Damásio Educacional S/A. Advogado militante na área de direito e processo tributário e do Trabalho. Participou ativamente na organização de simpósios nacionais e internacionais de direito, seminários e palestras de relevância nacional. Atualmente é discente do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

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Publicado

2024-07-04

Como Citar

Silveira Borges, G., da Cunha Savino Filó, M., & Lapa Lunardi, H. (2024). INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, CONSUMO E RESPONSABILIDADE JURÍDICA: ANÁLISE DO CASO DA VIA QUATRO DO METRO DE SÃO PAULO. REVISTA PARADIGMA, 33(1), 173–199. https://doi.org/10.55839/2318-8650RevParRPv33n1pa173-199