REGULAÇÃO DO RISCO NANOTECNOLÓGICO E NORMAS DO SISTEMA ISO: DA POSSIBILIDADE DE USO CRIATIVO DO DIREITO GLOBAL TRANSNACIONAL

Autores

  • Mateus de Oliveira Fornasier Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ, Ijuí/RS, Brasil)
  • Luciano Vaz Ferreira Universidade de Rio Grande (FURG)

Resumo

O artigo busca analisar o caso do risco nanotecnológico e a sua falta de regulamentação estatal no Brasil, paralela a uma regulamentação jurídica já existente na ordem da International Standardization Organization (ISO). Tem como hipótese ser possível construir o referido arcabouço, de modo reflexivo. A ISO tem entrelaçamentos organizacionais para com as ordens política e jurídica do Brasil, o que pode possibilitar um movimento entre uma ordem estatal tradicional e a ordem de uma organizacional transnacional não estatal. Seus objetivos específicos são: a) analisar o que são as nanotecnologias, bem como algumas das possibilidades tecnocientíficas que podem ser vislumbradas a partir do seu emprego; b) descrever, sistemicamente, características do Direito na sociedade global; c) apresentar a ISO – suas características, seu entrelaçamento para com o ordenamento jurídico brasileiro e quais normas podem ser observadas, no que tange ao risco nanotecnológico, para integrar uma estrutura normativa adequada para o Direito brasileiro. A metodologia utilizada é sistêmico-construtivista. Resultados: a) a regulação das nanotecnologias tornam imperativo relativizar concepções fenômeno jurídico baseadas quase exclusivamente na intervenção legislativa estatal, e conceber um Direito plural e justaposto, ideal para uma sociedade mundial dotada de grande velocidade e complexidade; b) o Direito global é multifacetado, hipercomplexo, contingente e policontextural, e se manifesta em redes especializadas, organizadas formal e funcionalmente, criadoras de uma identidade global estritamente setorial, as quais se reproduzem continuamente; c) a produção normativa da ISO é um exemplo de funcionamento do processo ultracíclico que caracteriza o Direito global.

Biografia do Autor

Mateus de Oliveira Fornasier, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ, Ijuí/RS, Brasil)

Doutor em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS, São Leopoldo/RS, Brasil). Professor do Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ, Ijuí/RS, Brasil)

Luciano Vaz Ferreira, Universidade de Rio Grande (FURG)

Doutor em Estudos Estratégicos Internacionais (UFRGS). Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), nos Cursos Graduação em Relações Internacionais e Comércio Exterior. Professor Colaborador do Mestrado em Direito e Justiça Social (FURG).

Referências

AGUDELO ZAPATA, Yineth; AGUDELO ZAPATA, Yessica. CASTANO LLANO, Rodrigo. Nanotecnología en la gastrohepatología. Revista Colombiana de Gastroenterología, Bogotá, vol.23, n.4, p. 361-368, 2008.

ALVES, Oswaldo. A Nanotecnologia Cumprindo as Suas Promessas. LQES News, Campinas, SP, 2005. Disponível em: <http://lqes.iqm.unicamp.br/images/pontos_vista_artigo_divulgacao_33_1_nanotecnologia_promessas.pdf>. Acesso em: 08 jun 2016.

BEA, Duani Blanco. TEJEDA, Alain Pérez. PARDO, Arlenis Acuña. CUADOR, Jenry Carreño. Nanomedicina: aspectos generales de un futuro promisorio. Revista Habanera de Ciencias Médicas, Havana, v. 10, n. 3, p. 410-421, 2011.

BRAITHWAITE, Joanne. Standard form contracts as transnational law: evidence from the derivatives market. The modern law review, 2012, v. 75, n. 5, p. 779-805.

BRASIL. Lei n. 5.966, de 11 de dezembro de 1973. Institui o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5966.htm>. Acesso em 13 maio 2017.

BRASIL. Lei nº 9.933, de 20 de dezembro de 1999. Dispõe sobre as competências do Conmetro e do Inmetro, institui a Taxa de Serviços Metrológicos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9933.htm>. Acesso em 13 maio 2017.

BRASIL. Diário da Câmara dos Deputados, Ano LXII, n. 203, 20 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD29NOV2008.pdf#page=81>. Acesso em 13 maio 2017.

BRASIL. Diário do Senado Federal, nº 115, 02 de agosto de 2013. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?tipDiario=1&datDiario=02/08/2013&paginaDireta=48839>. Acesso em 13 maio 2017.

CIENTISTAS criam músculo artificial 85 vezes mais forte do que humano. Zero Hora, Porto Alegre, 16 nov. 2011. Disponível em: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2012/11/cientistas-criam-musculo-artificial-85-vezes-mais-forte-do-que-humano-3953172.html>. Acesso em 13 maio 2017.

DEZALAY, Yves; GARTH, Bryant. Dealing in Virtue: international commercial arbitration and the construction of a transnational legal order. Chicago: University of Chicago Press, 1996.

DUARTE, Edson. Projeto de Lei da Câmara n. 5076, de 2005. Dispõe sobre a pesquisa e o uso da nanotecnologia no país, cria Comissão Técnica Nacional de Nanossegurança – CTNano, institui Fundo de Desenvolvimento de Nanotecnologia – FDNano, e dá outras providências. Disponível em:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=8E5C72DD2EDE99A08E8FF1BFDE35AA8C.node2?codteor=297210&filename=PL+5076/2005>. Acesso em 13 maio 2017.

DUVAL, Antoine. Lex Sportiva: A Playground for Transnational Law. European law journal, 2013 v.19, n. 6, p. 822-842.

EIDENMÜLLER, Horst. The Transnational Law Market, Regulatory Competition, and Transnational Corporations. Indiana Journal of Global Legal Studies, 2011, v. 18, n. 2, p. 707-749.

ENGELMANN, Wilson. As nanotecnologias e os novos direitos: a (necessária) revisão da estrutura das fontes do Direito. In Anuario de Derecho Constitucional Latinoamericano. Año XVII. Montedivéo, p.383-396, 2011.

ENGELMANN, Wilson. O diálogo entre as fontes do Direito e a gestão do risco empresarial gerado pelas nanotecnologias: construindo as bases à juridicização do risco. Constituição, Sistemas Sociais e Hermenêutica: Programa de Pós-Graduação em Direito da UNISINOS: mestrado e doutorado, Porto Alegre; São Leopoldo, p. 319-344, 2012.

ENGELMANN, Wilson; FLORES, André Stringhi. As nanotecnologias e os marcos regulatórios. Revista Visão Jurídica, v. 44, p. 72-75, 2010.

ESCHER, M. C. Reptiles, 1943. Litogravura, 33.4 cm x 38.5 cm. In: LOCHER, J. L. The Magic of M. C. Escher. New York; London: Harry N. Abrams, Inc., 2000.

FARIA, José Eduardo. O Direito na Economia Globalizada. 1 ed., 4 tir. São Paulo: Malheiros, 2004.

FEYNMAN, Richard. Há mais espaço lá embaixo. Trad. Roberto Belisário e Elizabeth Gigliotti de Sousa. Revista Parcerias Estratégicas, Brasília, n. 18, p. 137-155, 2004.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION - ISO. International Standards and “Private Standards”, Genève, 2010. Disponível em: <http://www.iso.org/iso/private_standards.pdf>. Acesso em 13 maio 2017, p. 2-3.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION – ISO. ISO Membership Manual. Genève, 2013. Disponível em: <http://www.iso.org/iso/iso_membership_manual_2013.pdf >. Acesso em 13 maio 2017.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION – ISO. ISO/TS 27687:2008. Lists unambiguous terms and definitions related to particles in the field of nanotechnologies. It is intended to facilitate communications between organizations and individuals in industry and those who interact with them.” Disponível em: <http://www.iso.org/iso/home/store/catalogue_tc/catalogue_detail.htm?csnumber=44278&commid=381983> Acesso em 13 maio 2017.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION - ISO. Standards catalogue. Disponível em: <http://www.iso.org/iso/home/store/catalogue_tc/catalogue_tc_browse.htm?commid=381983> Acesso em 13 maio 2017.

LACAVA, Zulmira Guerrero Marques. MORAIS, Paulo César de. Aplicações biomédicas de nanopartículas magnéticas. Revista Parcerias Estratégicas, Brasília, n. 18, p. 73-86, agosto de 2004.

LUHMANN, Niklas. Globalization or world society: how to conceive of modern society? International Review of Sociology, [S. l.], v. 7 n. 1, p. 67-79, mar./1997.

LUHMANN, Niklas. Law as a Social System. Tradução para o inglês de Klaus A. Ziegert. Oxford: Oxford University Press, 2004.

LUHMANN, Niklas. The world society as a social system. In: LUHMANN, Niklas: Essays on self reference. New York: Columbia University Press, 1990.

MAYNARD, Andrew. Nanotechnology and occupational health, [S. l.], 2005. Disponível em: <http://epa.gov/ncer/nano/lectures/maynard_06_13_05_presentation.pdf>. Acesso em 13 maio 2017. Palestra publicada no site da EPA, no hyperlink Nanotechnology: Lectures.

NEW NANOTECH PRODUCTS Hitting the Market at the Rate of 3-4 Per Week [S.l.], 24 abr 2008. Disponível em: <http://www.nanotechproject.org/news/archive/6697/>. Acesso em 13 maio 2017. Matéria postada no site The Project on Emerging Nanotechnologies, no hyperlink News.

OBERDORSTER, Gunter; OBERDORSTER, Eva; OBERDORSTER, Jan; Nanotechnology: An Emerging discipline evolving from studies of ultrafine particles, Environmental Health Perspectives, Washington DC, v. 113, n. 7, p. 823-839, jul. 2005.

OLIVEIRA, Virginia et al. Nanotubos de carbono aplicados às neurociências: perspectivas e desafios. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, vol. 39, n. 4, p. 201-206, 2011.

PASTRANA, Homero Fernando. AVILA, Alba. Nanomedicina: Estado del Arte. Revista de Ingeniería, Bogotá, n. 25, p. 60-69, 2007.

RONCO, Claudio; DAVENPORT, A; GURA, Victor. The future of the artificial kidney: moving towards wearable and miniaturized devices. Revista Nefrología, Barcelona, n. 31, vol. 1 p. 9-16, 2011.

SANTORO, Michael A. Beyond Codes of Conduct and Monitoring: An Organizational Integrity Approach to Global Labor Practices. Human Rights Quarterly, [S. l.] v. 25, n. 2, p. 407-424., maio 2003.

Disponível em: <http://muse.jhu.edu/loginauth=0&type=summary&url=/journals/human_rights_quarterly /v025/25.2santoro.html>. Acesso em 13 maio 2017.

SILVA, Guilherme Frederico Bernardo Lenz. Nanotecnologia: avaliação e análise dos possíveis impactos à saúde ocupacional e segurança do trabalhador no manuseio, síntese e incorporação de nanomateriais em compósitos refratários de matriz cerâmica. 2008, 73 f. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2008. Disponível em: <http://www.unisinos.br/biblioteca/images/stories/downloads/guia-biblioteca-2012-v2.pdf>. Acesso em 13 maio 2017.

SUPIOT, Alain. Homo juridicus: essai sur la fonction anthropologique du droit. Paris: Éditions du Seuil, 2005

TEUBNER, Gunther. A Bukowina Global: sobre a Emergência de um Pluralismo Jurídico Transnacional. Tradução: Peter Naumann. Revisão técnica: Dorothee Susanne Rüdiger. Impulso, Piracicaba, v. 14, n.33, p. 9-31, 2003.

TEUBNER, Gunther. Autoconstitucionalização de corporações transnacionais? Sobre a conexão entre os códigos de conduta corporativos (Corporate Codes of Conduct) privados e estatais. Tradução de Ivar Hartmann. Revisão de Germano Schwartz. In SCHWARTZ, Germano (Org.). Juridicização das esferas e fragmentação do direito na sociedade contemporânea. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.

TEUBNER, Gunther. Autopoiesis and Steering: How Politics Profits from the Normative Surplus of Capital. In: VELD, Roeland In't; SCHAAP, Linze; TERMEER, Catrien; VAN TWIST, Mark (eds.). Autopoiesis and Configuration Theory: New Approaches to Societal Steering. Kluwer, Boston 1991.

TEUBNER, Gunther. El derecho como sistema autopoiético de la sociedad global. Tradução para o espanhol de Manuel Cancio Meliá e Carlos Gómez-Jara Díez. Peru: ARA, 2005.

TEUBNER, Gunther. O direito como sistema autopoiético. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.

TEUBNER, Gunther. Societal Constitutionalism: alternatives to State-Centred Constitutional Theory? In: JOERGES, Christian; SAND, Inger-Johanne; TEUBNER, Gunther (Ed). Transnational Governance and Constitutionalism. Portland: Hart Publishing, 2004.

THE ROYAL SOCIETY; THE ROYAL ACADEMY OF ENGINEERING. Nanoscience and nanotechnologies: opportunities and uncertainties. Londres, jul. 2004. Disponível em: <http://www.nanotec.org.uk/report/Nano%20report%202004%20fin.pdf>. Acesso em 13 maio 2017.

VIANA, Tião. Projeto de Lei do Senado n. 131, de 2010. Altera o Decreto-Lei nº 986, de 21 de outubro de 1969, que institui normas básicas sobre alimentos, e a Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências, para determinar que rótulos, embalagens, etiquetas, bulas e materiais publicitários de produtos elaborados com recurso à nanotecnologia contenham informação sobre esse fato. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/77365.pdf>. Acesso em 13 maio 2017.

Downloads

Publicado

2017-09-05

Como Citar

Fornasier, M. de O., & Ferreira, L. V. (2017). REGULAÇÃO DO RISCO NANOTECNOLÓGICO E NORMAS DO SISTEMA ISO: DA POSSIBILIDADE DE USO CRIATIVO DO DIREITO GLOBAL TRANSNACIONAL. Revista Paradigma, 26(1). Recuperado de https://revistas.unaerp.br/paradigma/article/view/842

Edição

Seção

Artigos